O mito dos Andróginos e o Amor
Sabe aqueles irmãos que a vida nos dá?
Então, tenho um amigo que é assim, um irmão que a vida me deu. Além de amigo, sou um grande admirador dele. É um grande intelectual, psicólogo entre outras especializações, pai da psicodinâmica.
Essa semana me chamou para almoçar, precisava me falar algo. Como ele se mudou de São Paulo há uns meses, temos poucos dias para encontros, haja vista ele vir esporadicamente a trabalho.
Bom, sentamos para comer e de pronto me disse: “velhão, vou me casar. Estou apaixonado”. Sabendo de uma recente separação, pensei se tratar de uma conciliação. Antes de poder protestar ele me disse: “a conheci há um mês mais ou menos, você vai adora-la”.
Sou bastante reticente com amores relâmpagos, a filosofia nos deixa ressabiados. Tendemos a questionar tudo, principalmente afetos explosivos. Contudo, ouvi uma coisa do Nando que me fez parar pra refletir. Ele me disse: “velhão, vou fazer 50 anos, na minha idade a gente saca se a mulher é de verdade ou não. Eu sei que é a mulher pra mim”. De imediato me lembrei de um diálogo de Platão chamado “O banquete”.
Em “O banquete” Platão relata um debate sobre o amor. Um dos debatedores era Aristófanes. Aristófanes nos apresenta o mito dos Andróginos.
“Antes de existirem os humanos, existiam criaturas que tinham 4 olhos, 4 braços, 4 pernas, duas cabeças e 2 genitálias. Cada andrógino possui duas genitálias, sendo que poderiam ser as duas masculinas, duas femininas ou uma de cada. O mais comum eram andróginos com uma genitália masculina e outra feminina, mas genitálias duplicadas não eram incomuns.
Acontece que essas criaturas ficaram curiosas sobre como viviam os deuses. Começaram a se amontoar uma em cima da outra até chegarem ao monte Olimpo. Quando Zeus percebeu que estavam sendo observados ficou furioso, usou seu raio e partiu cada andrógino ao meio, dando origem aos humanos. Desse dia em diante cada metade vive procurando sua parte perdida para completa-la. O amor se faz quando as metades se encontram e se completam.”
Empolgado em me mostrar sua pretendente, pegou um livro, abriu em um determinado capítulo e me pediu pra ler. Ela é uma intelectual como ele, professora de português de uma genialidade na sua forma de escrever que me prendeu ao livro. Escritora de sucesso e de um humor inteligente e perspicaz. Enfim, duas metades que se encontraram de forma a se completarem.
Sendo assim, só me resta ficar extremamente feliz por meu amigo e desejar ao casal o que os gregos chamavam de eudaimonia. Eudaimonia é quando achamos nosso lugar no cosmos, uma vida plena que da fim nela mesma, sem motivo posterior. Que cada encontro de vocês seja pleno e tão satisfatório que de fim em si mesmo, tão alegre e tão pleno que possa ser traduzido simplesmente por felicidade.
Marcus M. C. Gómez