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Fases psicossexuais na formação da personalidade

  • Marcus M. C. Gómez
  • 24 de mai. de 2020
  • 5 min de leitura

“Ele já tem dois anos, temos que tirar a chupeta”. Essa era a frase que eu ouvia repetidamente da minha mulher, indignada por eu não querer forçar meu filho a largar a chupeta de “sopetão”. Para embasar seu argumento ela dizia: “os dentes ficarão tortos, ele terá de usar aparelho”. Eu dizia em resposta: “mais fácil corrigir os dentes do que a personalidade. Pergunte a um psicólogo”. Nesse embate, lembrei-me de Freud e de como ele postula a formação das fases psicossexuais. Sendo minha sogra psicóloga, fica mais fácil argumentar com minha mulher no que tange as teorias freudianas de formação da personalidade. Sendo assim, fomos pesquisar o que o maior pensador sobre a psiquê humana diz a respeito do tema.

Segundo Freud as fases psicossexuais são extremamente importantes na formação da personalidade da criança. A energia libidinal se direciona às zonas erógenas variando de acordo com a fase que a criança se encontra. Embora as fases não sejam fixas e “engessadas”, em geral, elas ocorrem em uma ordem cronológica. Podendo porém se manifestar em ordem diferente da convencional.

A primeira fase é a fase oral. Na fase oral a criança tem como fonte primária de satisfação do prazer a boca. A primeira coisa que erotizamos na vida é a mãe e o seio da mãe. É nossa primeira fonte de prazer e diminuição do desconforto. Além da amamentação, a criança conhece o mundo pela boca. Por essa causa, ela leva tudo que encontra à boca. Essa energia libidinal direcionada a boca, caracteriza-a então como primeira zona erógena. Adultos com problemas relacionados a boca como comer muito, beber, fumar, falar demasiadamente podem ter tido problemas na fase oral.

A segunda fase é a fase anal. Não que o anus seja fonte de prazer, mas sim o controle dos esfíncteres. A criança usufrui do prazer de controlar seus dejetos, não só de excreção como também de micção. É também na fase anal que ela se dá conta, de que não é o centro de tudo, e de que sua mãe é um ser autônomo à ela. É na fase anal que a criança se dá conta do outro. Além disso, ela já fala. Sendo assim, muitos pais cometem o erro de achar que ela já compreende todas as articulações da língua, como ironias ou mensagens nas “entrelinhas”. A criança ainda não possui cognição suficiente para perceber mensagens não claras. Dessa forma, ela encara tudo de forma literal e fixa desse modo. É perfeitamente normal na fase anal o desenvolvimento do “egoísmo”. É importante para a criança se dar conta de si no mundo e do que lhe pertence. Problemas na fase anal podem gerar adultos extremamente competitivos, manipuladores, possessivos e que querem acumular muitas posses, entre outras características.


Como terceira fase psicossexual temos a fase fálica. É na fase fálica que a criança se dá conta dos seus órgãos sexuais. Não só do seu sexo, como dos demais. É nessa fase que começam os “porquês”. A criança quer entender o mundo e suas diferenças, já que se deu conta de que cada ser é diferente do outro. É nessa fase que aparecerá o complexo de Édipo, onde o filho deseja tomar o lugar do pai com relação a mãe e a filha o lugar da mãe. Tendo eu dois filhos, hoje um com sete anos e outro com três anos e meio, vejo claramente como o complexo de Édipo se desenvolve e acaba. No inicio do Édipo o menino quer tomar o lugar do pai, pois deseja o amor da mãe. Começa a dizer frases como “eu vou casar com minha mãe”, ou a menina, “eu vou casar com meu pai”. É importante que o pai faça uma “castração” no filho nessa fase. Quando o pai se posiciona, o filho se dá conta de que não irá conseguir tomar o lugar do pai e começa uma figura projetiva. Aí frases como “quando crescer, quero ser igual você papai”, passam a substituir as frases anteriores de posse da mãe. É interessante notar como o menino em especial pode desenvolver um sentimento de superioridade para com a mãe. Como ele tem um pênis, e percebe que a mãe não tem, surge um sentimento ambíguo. O sentimento de superioridade por ter algo que a mãe não têm e o medo da castração. Medo de perder o pênis assim como a mãe, pois ele crê que todos nascem com um pênis. É comum nessa fase ver crianças se masturbando ou manipulando as genitálias. Essa masturbação não tem conotação sexual, a criança está apenas experimentando novas sensações. Ao final da fase fálica, a criança parece perder o interesse na sexualidade e a disputa com o pai é amenizada, no caso dos meninos, ou com a mãe, no caso das meninas. Adultos extremamente narcísicos ou com fixação em uma das duas fases anteriores podem ter tido problemas na fase fálica. É nessa fase também que se desenvolve a perversão.

A quarta fase é o período de latência, que é caracterizado por um intervalo no desenvolvimento sexual e das sensações antes experimentadas. Nessa fase a criança desenvolve o amor homossexual. Como assim?

É nessa fase que os meninos só querem ficar com os meninos e as meninas só com as meninas. É perfeitamente normal nessa fase a rejeição ao sexo oposto, valorizando assim o social com os do mesmo sexo. É no período de latência que a criança volta sua energia libidinal para o social. É muito importante nessa fase a introdução ao esporte e ao convívio de outras crianças. Em geral, é quando começa a idade escolar e a criança pode experimentar o convívio social sem a presença dos pais, desenvolvendo seu EGO. Não é costumeiro ver fixação à fase de latência, por ser um período de intervalo nas pulsões sexuais.

A quinta e ultima fase é a Genital, ela se estabelece desde a adolescência e continua na vida adulta. É na fase genital que o aparelho sexual fica pronto, e nela começa a adolescência. Adolescência, do latim dolescere, é um “adoecimento” – crescer com dores. É nessa fase que o jovem tem três grandes lutos. O luto das brincadeiras da infância, o luto do corpo de criança e o luto dos pais da infância. Ele deseja brincar ainda, porém não é mais aceito socialmente que o faça, pois já é quase um adulto. Ele não se reconhece mais no seu corpo, pois as mudanças são repentinas e abruptas. De repente, a voz muda, os pés e orelhas crescem muito mais, no caso das meninas aparecem os seios. O adolescente já não se reconhece no espelho. Finalmente ele precisa “matar” os pais para que possa desenvolver sua autonomia para com o mundo e construir sua identidade. Por isso, a fase genital é conhecida pela rebeldia, afrontamento, medos e aflições.

Quando ocorre algum problema em uma das fases de desenvolvimento psicossexual, ocorre o que a psicanálise chama de fixação. A criança fixa um ponto de referencia antes do trauma. Após a adolescência, na vida adulta, em situações em que ela se sente acuada ou insegura, o adulto faz uma regressão ao ponto de fixação em busca da segurança e do conforto marcados na infância.

Só nos resta a pergunta: “mais fácil arrumar os dentes ou a personalidade?”. Sendo assim, deixe-o chupar sua chupeta enquanto ainda estiver na fase oral. Um bom desenvolvimento da personalidade fará da criança um adulto confiante e estável psiquicamente.


 
 
 
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