FILOSOFIA E POLÍTICA, EIS A QUESTÃO
- Chileno Gómez (Marcus M C Gómez)
- 6 de ago. de 2020
- 4 min de leitura
Não aguenta mais ouvir falar sobre política nos encontros familiares? No serviço sempre tem alguém que toca no assunto? Nem no bar mais consegue ficar tranquilo sem debates políticos? Nos últimos anos o país foi invadido por especialistas em política. Pais, tios, amigos, vizinhos e motoristas de aplicativos tem figurado entre os grandes debatedores políticos. O curioso é que a média da população brasileira não aumentou. De onde vieram então tantos especialistas? Será que houve uma invasão em massa na graduação de ciências políticas?
Não é incomum ver artistas ou influencers apontando direcionamentos políticos.
Outro fator muito curioso é que muitos debatedores de política se dizem desinteressados em filosofia. Ou sequer leram algo relacionado a filosofia.
Você sabia que política e filosofia são indissociáveis? (Que palavra é essa professor?
-Não precisa ir para o google, eu já explico. Indissociável é o que não pode ser separado, ou seja, inseparável.
-Aaaa, porque não falou logo inseparável?
-Por que gosto de parecer inteligente)
Todos os grandes pensadores políticos são filósofos. A ciência política, assim como todas as outras ciências, nasceu da filosofia. Contudo, até pouco tempo, era apenas filosofia. Conceitos como socialismo, liberalismo, democracia e outros nasceram nos debates filosóficos. A própria palavra política é relativa aos debates sobre a polis, ou seja, as cidades estados da Grécia antiga. A filosofia tem impulsionado o conhecimento desde os primórdios da civilização.
Ao contrário do que muitos acreditam, a filosofia não apresenta nenhuma resposta definitiva para nenhuma questão em particular. Muito pelo contrário, é perfeitamente normal encontrar filósofos dizendo o contrário um do outro sobre determinado assunto. Com relação a política não é diferente.
- Se a filosofia não dá respostas definitivas, então por que estudá-la?
Pelo simples fato da filosofia se basear em estudos e argumentos lógicos para construir seus pontos de vista. Qualquer posicionamento sem base será apenas opinião ou mero achismo.
-Professor, onde entram as redes sociais em tudo isso?
O whatsapp, facebook, instagram e outras mídias sociais tem sido os principais veículos de propagação do dito “conhecimento político” hoje em dia. Replicamos “notícias” e “verdades” sem qualquer verificação sobre sua veracidade. Digo replicamos por que todos nós já fizemos isso. Umberto Eco, pensador e filósofo italiano, ressalta os perigos das redes sociais em “dar voz” a qualquer um. Essa popularização do discurso minou a autoridade dos reais especialistas. Qualquer pessoa se acha no direito de discordar de profissionais que estudaram a vida inteira sobre o tema. Contudo, sejamos justos, não é só a política ou a filosofia que sofrem com esse mal. Áreas como medicina, direito e outras tantas também tem sofrido com esses “eu não concordo”.
Claro que a politização não é de todo mal, muito pelo contrário, ela é muito boa para o país. O problema é uma pseudo-politização. O que isso que dizer? Pseudo-politização é ser politizado sem o devido conhecimento. É uma falsa politização. Apenas replicar o que se ouve não é nem de longe saber sobre política ou filosofia. Consumir material de apenas uma vertente também não é ser politizado. Se você é de direita e só consome material de direita, só busca confirmação de seus conceitos. Se é de esquerda, a mesma coisa. O real entendimento só poderá acontecer se você realmente conhecer todas as perspectivas. Até porque, até para negar algo, é preciso conhecê-la. Não posso negar o socialismo se não fizer um real estudo sobre Marx, Engels e outros grandes pensadores socialistas. Não posso negar o liberalismo se não estudar Adam Smith, John Stuart Mill, Mises e outros teóricos do liberalismo. Enfim, o conhecimento se faz mediante o estudo de todas as perspectivas envolvidas, principalmente as que se nega.
Não é incomum encontrar quem odeia o socialismo e nunca sequer leu uma obra de Marx, ou quem odeia o liberalismo que nunca tenha lido Adam Smith. Enfim, é o mais puro “achismo” apresentado como argumento.
Como se proteger de tais opiniões infundadas e de autointitulados especialistas em debates sobre política? Se permite uma opinião pessoal do autor que vos escreve, em primeiro lugar, não participe de tais debates. Eles só servirão para lhe indispor com as pessoas que você ama. Sorria gentilmente, abane a cabeça e mude de assunto. Lembra dos pinguins do filme infantil Madagascar? “Sorria e acene”. Em segundo lugar, estude. Mas estude de verdade. Busque literatura reconhecida pela academia. Estude todas as vertentes políticas que puder. Tente não ser parcial em suas avaliações, procure entender as razões de cada autor e as condições históricas, políticas e econômicas em que cada um vivia quando escreveu sua obra. Ter conhecimento lhe dará o devido arcabouço teórico para identificar logo de cara quem realmente sabe do que está falando e quem só está replicando conteúdo de Whatssap.

A base da filosofia é saber questionar. O filósofo não cresce nunca, por que não para de perguntar porque. Questione suas certezas e seus paradigmas. Saber questionar seus próprios paradigmas fará com que os reavalie sempre, seja para alterá-los, seja para reafirmá-los.
Para finalizar nosso artigo, termino citando um conceito de vida proposto por Confúcio, filósofo chinês, e por Aristóteles, filósofo grego. Ambos propõe que, o melhor caminho é “o caminho do meio”, ou “justo meio”. Não quer dizer que você não possa se posicionar, mas sim, que deve buscar o equilíbrio nas relações. Não deixe radicalismos te privar de sua paz e de suas relações. Romper relações não ajudará a transmitir real conhecimento. Estude! Só assim poderá distribuir conhecimento de qualidade. E se não for possível um diálogo civilizado, não se esqueça, “sorria e acene”.
Chileno Gómez
(Marcus M C Gómez)